Em 15 de agosto, a Ronin anunciou sua transição de sidechain da Ethereum para uma solução Layer 2. Apenas cinco meses antes, Ronin se posicionava como uma sidechain em expansão para o DeFi, integrando jogos e aplicativos de consumo. O que motivou uma mudança tão rápida?
Há quatro anos, o plano de escalabilidade da Ethereum ainda estava em estágio inicial. Atualmente, observa a equipe da Ronin, o cenário mudou radicalmente. O crescimento da Ethereum reduziu os custos de transação e aumentou a velocidade das operações a patamares inéditos. Como infraestrutura para grandes jogos Web3 como Axie Infinity, a mudança estratégica da Ronin não só reflete o novo momento da Ethereum, mas também pode inaugurar uma era de maturidade e escalabilidade para o segmento de jogos em blockchain.
Ronin nasceu em 2021, quando a equipe da Sky Mavis desenvolveu a rede para o Axie Infinity, jogo que se tornou fenômeno global. Na época, taxas de gas elevadas e congestionamento na mainnet da Ethereum eram problemas recorrentes para gamers. A Ronin foi lançada como sidechain para oferecer transações acessíveis e alta capacidade voltadas ao universo de jogos.
No auge, Axie Infinity atraiu milhões de jogadores, com mais de 1 milhão de usuários ativos diários na Ronin, impulsionando o crescimento mundial explosivo do modelo Play-to-Earn.
Porém, o pico não durou. Em março de 2022, Ronin sofreu o maior ataque hacker já registrado, com perdas de US$ 625 milhões. O episódio revelou fragilidades do modelo sidechain em segurança e descentralização, levando muitos a prever o declínio da Ronin.
Mesmo assim, a equipe da Sky Mavis mostrou resiliência notável. Atualizou o modelo de validadores, adotou o Delegated Proof-of-Stake (DPoS) e se aliou à Binance e outros parceiros para reestabelecer a rede. Em agosto de 2024, Ronin ainda conseguiu que hackers white-hat devolvessem US$ 10 milhões em ETH, evitando prejuízos adicionais.
Em 2025, Ronin promoveu uma retomada impressionante, mantendo cerca de um milhão de carteiras ativas diariamente e intensa atividade em jogos como Pixels, Lumiterra e Fishing Frenzy. Segundo o site oficial, o volume de DEX on-chain da Ronin alcançou US$ 9,41 bilhões, os NFTs movimentaram US$ 6,47 bilhões, o TVL atingiu US$ 750 milhões, e as carteiras foram baixadas 31 milhões de vezes.
A transformação surge diante das limitações crescentes do modelo sidechain. Com o amadurecimento da Ethereum, as sidechains entregaram autonomia, mas sacrificaram a segurança compartilhada e a integração de liquidez com a mainnet.
Em comunicado, a equipe Ronin foi direta: “Ronin está retornando à Ethereum como Layer 2”. Não é uma decisão repentina, mas ecoa uma clara tendência do setor. Em 2025, blockchains Layer 1 como Celo e Cronos migraram para arquiteturas L2, mostrando que as L2 aproveitam a segurança robusta da Ethereum e permitem alto TPS (transações por segundo).
Dados da Ethereum Foundation revelam que soluções L2 elevaram o TPS da rede para mais de 100.000, impulsionando a adoção global. A transição da Ronin vai explorar tecnologia de zero-knowledge proof (zk) para lançar um zkEVM (zero-knowledge Ethereum Virtual Machine), mantendo total compatibilidade com Ethereum e reduzindo significativamente custos e latência das transações.
A escolha da Ronin por L2 e pelo retorno à Ethereum se apoia, em parte, no forte desempenho da Ethereum no terceiro trimestre de 2025, com ETH sustentando cotação acima de US$ 4.600 em meados de agosto—quase atingindo seu topo histórico.
A nova onda de confiança na Ethereum também foi impulsionada pela explosão de atividades em todo o ecossistema.
De acordo com a DefiLlama, o valor total bloqueado (TVL) na mainnet Ethereum ultrapassou US$ 94,552 bilhões, bem acima dos US$ 10,828 bilhões da Solana, consolidando a liderança da Ethereum no DeFi. Esse movimento garante à Ronin amplo acesso a usuários e liquidez, permitindo que os ativos de jogos circulem de modo ágil pelo ecossistema Ethereum após a migração, impulsionando a adoção.
A evolução tecnológica planejada pela Ethereum também torna as L2 cada vez mais atrativas. Após o upgrade Dencun em 2024, o hard fork Pectra (Prague-Electra) foi lançado com sucesso no primeiro trimestre de 2025, aumentando a escalabilidade, reduzindo taxas e melhorando o staking. A previsão é que, até o final do ano, a Ethereum implemente o upgrade Fusaka—o primeiro pós-Pectra com foco exclusivo em performance. Fusaka vai trazer diversas propostas de melhoria (EIPs), ampliar em escala a capacidade de blobs e permitir que rollups L2 (como Arbitrum e Optimism) processem mais dados com menores custos, abrindo espaço para TPS na ordem de dezenas de milhares.
Atualizações como Verkle trees e PeerDAS também vão reduzir custos de operação de nós e exigências de hardware, favorecendo ainda mais a descentralização da rede—including suporte para clientes móveis e leves.
Para Ronin, essa transformação representa a evolução de uma sidechain isolada para um ecossistema modular e vibrante, fortalecendo sua posição no mercado de jogos Web3 de longo prazo.
Ronin vai completar sua migração no segundo trimestre de 2026, utilizando o Chain Development Kit (CDK) da Polygon. A rede passará a se beneficiar da segurança e da descentralização de destaque da Ethereum, com velocidade de transação estimada em doze vezes a atual.
A aceleração é essencial para jogos como Axie Infinity, proporcionando negociações de NFTs e economia interna de forma fluida. Os desenvolvedores também saem ganhando. Ronin se posiciona como o “motor para games da Ethereum”, atraindo mais equipes para lançar L2 customizadas. Novos projetos—including Cambria Duel Arena, Fableborne e Angry Dynomites—já estão surgindo, usando integração DeFi em L2 para conectar jogos e finanças.
Uma mudança importante: após a migração, as recompensas do token RON migrarão para o modelo “Proof of Allocation”, que incentiva diretamente desenvolvedores e contribuidores.
Nos últimos anos, as recompensas RON foram distribuídas a Validadores Governantes e Validadores Regulares para reforçar a segurança. Com a nova atualização, as recompensas passarão a Validadores Governantes e Contribuidores, alinhando os interesses dos desenvolvedores com os usuários e inaugurando um novo ciclo centrado no token RON.
Jihoz, cofundador da Sky Mavis, já declarou que Ronin pode ser “o Nintendo das criptos”. Com essa migração, Ronin tem potencial para impulsionar o futuro dos games em blockchain.